Há algum tempo venho acompanhando uma mãe e seu filho. Todos os dias lá vem ela, mãos dadas ao rapaz, talvez 20 anos, que é portador de síndrome de Down. Acordo cedo e desço para ver os jornais e conversar fiado na porta do boteco da esquina. Não demora muito e a cena se repete: lá vem a mãe, uma mulher esguia, uns 45 anos, cabelos lisos e negros, com seu filho, em sua rotina diária. O rapaz estuda numa escola para portadores de necessidades especiais na rua em que moro.

Na esquina eles param e ficam, todos os dias, conversando por cerca de 10 minutos. Não há, nesse tempo, um momento sequer que ela deixe de fazer um carinho no filho. Alisa suavemente seu rosto, abraça-o, riem, continuam a conversa, agora de mãos dadas. Fico ali, olhando os dois e todos os dias me emociono com aquela mãe. 

Hoje, ao despedir-se do filho, estava eu de pé e ela, ao virar-se para sair, notou que eu olhava a cena. Fitou-me com seus grandes olhos negros e se foi. Fiquei ali, estático, pensando no olhar daquela mulher.

Não havia no olhar daquela mãe nenhum resquício de amargura, ódio, ressentimento, tristeza; ao contrário: havia altivez, ali; não a altivez do orgulho e da prepotência, não; havia a altivez do amor, da ternura, do afeto; enfim do dever cumprido, não por obrigação, mas por grandeza. Sim, havia cansaço naqueles olhos, mas daquele cansaço que castiga o corpo e alivia a alma. O cansaço do prazer de amar por inteiro aquele filho; cansaço que não cansa, pois se torna nada diante do seu amor infinito.

Estou aqui escrevendo, mas a vontade que tenho é de dar um forte abraço naquele mãe e dizer: “Obrigado, mãe, nós, pobres homens, te invejamos por tanto amor…”

Zatonio Lahud- Fevereiro de 2010


3 comentários sobre “Mãe

Deixe um comentário